Jon Amil: “A AGAL tem que encontrar o seu papel também fora do campo cultural galego, tem que ser uma referência para a sociedade galega no seu conjunto”



Jon Amil (Vigo 1988), o novo presidente da AGAL, escolhido por umha amplíssima maioria na passada assembleia da associaçom, é filho de nai basca e pai galego. Estudou Medicina na Universidade de Santiago de Compostela e, a seguir, estivo vários anos a trabalhar em Euskal Herria, da qual retornou recentemente.

Leva muitos anos no ativismo linguístico, nomeadamente através da internet, participando em projetos de âmbitos tam diferentes como Os Arquivos da Meiga, Memoria Pixelada ou As MIR e unha noites. Nos últimos 8 anos tem sido vogal do Conselho da AGAL e gestor do consultório linguístico @emgalego, que chegou a contar com mais de 14.000 seguidores no Twitter.

A AGAL é umha associaçom de mais de 40 anos, qual é o seu rol no campo cultural galego?

A AGAL tem um objetivo claro desde o primeiro momento, conseguir a plena normalizaçom da nossa língua na Galiza e a sua reintegraçom no âmbito linguístico ao qual pertence. O seu papel no campo cultural galego sempre estivo claro, oferecer um modelo de língua coordenado com as demais variedades da nossa língua no mundo, e tecer pontes culturais com o resto de territórios da lusofonia. E esse labor, penso eu, foi realizado duma maneira magnífica, tendo em conta todas as circunstâncias adversas que historicamente sofreu o movimento reintegracionista.

Mesmo assim, na minha opiniom, o futuro passa por sairmos dessa borbulha. A AGAL tem que encontrar o seu rol também fora do campo cultural galego, tem que ser uma referência para a sociedade galega no seu conjunto. A língua é um dos eixos principais da nossa cultura, é claro, mas é muito mais do que isso. O galego tem que ser também um dos eixos principais das novas tecnologias, da ciência, do entretimento, do desporto, da economia, do turismo, e de qualquer outro campo. A nossa língua tem uma potencialidade enorme, tanto a variante galega por si própria como sendo parte do sistema linguístico galego-luso-brasileiro. E a AGAL tem que estar aí para mostrar isso.

Como avalias a situaçom da AGAL atual? Como chega o novo Conselho a assumir a direçom da associaçom?

Miguel Penas, Jon Amil,
Eduardo Maragoto e Valentim Fagim.

A situaçom atual da AGAL é, da minha opiniom, melhor do que nunca. Como dizia Newton, se podemos olhar para mais longe, é por estarmos sobre ombros de gigantes. No caso da AGAL, eu diria que até literalmente, porque tem um historial de presidentes mui altos. Espero dar estado à altura…

Brincadeiras fora, a verdade é que a AGAL tem feito uma trabalheira nos últimos anos, tem uns alicerces sólidos e uns projetos em andamento que funcionam como uma engrenagem. Tenho imensa sorte de que esta candidatura chegue à frente da associaçom neste momento, porque nom temos que gastar os nossos esforços em montar toda a infraestrutura. A infraestrutura está aí. Graças ao labor de todas as pessoas que figérom parte da AGAL nestes 40 anos, nós agora podemos pôr metas mais ambiciosas, podemos procurar novos horizontes mais além. Graças ao que essa gente caminhou, nós agora podemos sonhar com voar.

A candidatura que encabeças combina nomes reconhecidos na direçom da AGAL com pessoas novas. Como descreverias a equipa de “A Nossa Língua Comum”?

Pois… penso que a imagem que melhor a descreve é a que usei na própria assembleia quando a apresentei. A equipa d’A Nossa Língua Comum somos como os Power Rangers. Somos pessoas normais, comuns, cada quem da sua cor e com as suas opiniões. Por separado temos as nossas forças, as nossas habilidades, e podemos defender-nos bem. Porém, quando temos que enfrentar uma dificuldade grande, muito maior do que qualquer de nós, somos capazes de trabalhar em conjunto para formarmos um Megazord, um só ente gigante que manejamos em sincronia.

Esta metáfora se calhar nom a entendeu todo o mundo, mas é que sou um neno dos anos 90. Nom podo evitá-lo. Digamos só que tenho a enorme sorte de ser mais um membro no meio duma equipa de pessoas maravilhosas que valem muitíssimo.

Em termos gerais, a candidatura quer ser continuista com o grosso das linhas de trabalho. Nestas décadas, a AGAL consolidou um trabalho referencial em diversas linhas, com destaque na influência de algumhas delas, como os projetos da área de formaçom e a editorial. Transformou-se a AGAL numha instituiçom?

Pois… cada quem fala da feira segundo lhe foi nela. Esta resposta tem dous lados, como uma moeda. A cara é que a AGAL tem feito e fai uma trabalheira imensa, com projetos de enorme êxito com os quais há umas décadas nom podíamos nem sonhar. Quem podia pensar que íamos ter uma editora como a Através, que edita plenamente em galego internacional, com livros premiados e com tam boa crítica? Por nom falar no êxito dos cursos aPorto, da profissionalizaçom do PGL, das leituras continuadas, do debate ao redor do binormativismo… e de tantos outros projetos.

Quem podia pensar que íamos ter uma editora como a Através, que edita plenamente em galego internacional, com livros premiados e com tam boa crítica? Por nom falar no êxito dos cursos aPorto, da profissionalizaçom do PGL, das leituras continuadas, do debate ao redor do binormativismo… e de tantos outros projetos.

Porém, existe uma coroa, e é que ainda estamos longe de que a AGAL seja conhecida e reconhecida por toda a sociedade galega. Temos que lograr rachar com as fronteiras do movimento cultural e chegar ao grosso da sociedade. Conseguir que nos conheça a gente que nos está sensibilizada com o tema da língua, que a nossa voz chegue à gente a que o próprio movimento normalizador nom dá chegado.

Dentro das novas linhas, fala-se por primeira vez de infância, o que se quer fazer nesse sentido?

Fala-se de infância porque é o grande problema que temos agora mesmo. Os últimos inquéritos mostram que 23,9% das crianças da Galiza entre 5 e 14 anos nom sabem falar em galego. Nom conhecem a nossa língua. Há um século, a prática totalidade da populaçom galega falava sempre em galego. Se continua esta tendência, num par de gerações perdemos a língua.

As propostas de trabalho neste sentido que podemos fazer na AGAL som poucas, mas tenhem que ser um ator importante dentro duma mudança geral na sociedade. Temos que lograr que o galego seja a língua da infância. Que quando alguém compre um livro infantil, vaia a um espetáculo dirigido a infância, cante canções para crianças… o normal seja fazê-lo em galego. Que todo o mundo, independentemente da língua que fale, entenda que às crianças há que lhes falar em galego. E nós… pouco podemos fazer, mas queremos criar conteúdo para fomentar o galego na infância (p. ex, um canal no Youtube Kids) e ferramentas para monitores de lezer e tempo livre ou mestres de escolas infantis.

Os últimos inquéritos mostram que 23,9% das crianças da Galiza entre 5 e 14 anos nom sabem falar em galego. Nom conhecem a nossa língua. Há um século, a prática totalidade da populaçom galega falava sempre em galego. Se continua esta tendência, num par de gerações perdemos a língua.

Obviamente, temos que destacar aqui o labor que se está a fazer nas Escolas Semente. O nosso objetivo, obviamente, nom é competir nem criar duplicidades, senom trabalhar ao lado delas para chegar a aqueles âmbitos aos quais nom dam chegado.

A mocidade e a comunicaçom digital também som dous pontos destacados. Que peso terá essa linha?

Muito. No tema da comunicaçom digital, o objetivo é seguir o modelo @emgalego e aplicá-lo a toda a estratégia comunicativa da AGAL. A nossa associaçom nom pode ser um ente elitista e academicista que diga aos demais como tenhem que falar, nem pode ser uma arma de arremesso que ataque todo o que nom seja puro e ideal. Temos que falar com a gente de maneira horizontal, pessoal, ajudando e colaborando, com empatia. Se as pessoas se sentem escuitadas e nom julgadas, será mais fácil que perdam os preconceitos e se acheguem ao reintegracionismo.

A nossa associaçom nom pode ser um ente elitista e academicista que diga aos demais como tenhem que falar, nem pode ser uma arma de arremesso que ataque todo o que nom seja puro e ideal. Temos que falar com a gente de maneira horizontal, pessoal, ajudando e colaborando, com empatia. Se as pessoas se sentem escuitadas e nom julgadas, será mais fácil que perdam os preconceitos e se acheguem ao reintegracionismo.

Quanto à mocidade, tem um peso fundamental. Todas aquelas pessoas que perdêrom o galego na infância, tenhem na sua mocidade o momento perfeito para retornarem a ele. Isto é, o que conhecemos como neofalantes. Acontece que, claro, nom podemos ser paternalistas e andar a dizer-lhes que é o que tenhem que fazer ou deixar de fazer. Nem podemos ser o senhor Burns disfarçado de rapaz fingindo de maneira forçada que pertencemos a um coletivo ao qual nom pertencemos. Temos que oferecer a oportunidade de que a mocidade trabalhe para promover o galego na mocidade. Usando os seus códigos, os seus canais de comunicaçom, os seus referentes culturais. Conseguir que nasça na própria mocidade um movimento que, como uma bola de neve, fomente o uso do galego e promova a comunicaçom com o resto da lusofonia.

Há umha crítica explícita à masculinizaçom da associaçom (76% das persoas associadas na atualidade som homes. 6 das 7 persoas que ocupárom a presidência da associaçom fôrom homes, dos últimos 10 livros publicados pola Através Editora, 8 fôrom escritos ou coordenados por homes). Como se recebeu a proposta de trabalhar para corrigir a desigualdade estrutural e a vontade da equipa por favorecer a igualdade?

A crítica também inclui a nossa própria candidatura, formada por 5 homes e 3 mulheres, e encabeçada por um home como presidente. Nom só falamos de dados frios, falamos de que apesar duma vontade decidida desta candidatura nom foi possível conformar uma lista paritária dentro da própria associaçom. Algo está a ir mal, certamente, e nom podemos dar as costas à realidade. Será que a AGAL nom é um espaço realmente seguro? Que é o que podemos fazer para lograrmos uma mudança real e duradoura nesse aspeto? Nom temos a resposta, esse é o desafio que temos por diante.

Respondendo a pergunta inicial, a proposta foi geralmente bem recebida. Nom nos chegou pessoalmente nenguma crítica, e todos os comentários que nos figérom fôrom dirigidos a tentar encontrar uma explicaçom. Porém, mesmo que a vontade esteja aí, existe uma inércia de 40 anos contra a que temos que luitar se queremos pôr soluçom a isto. Nom chega com dizer “uf, que mal” e continuar na mesma. Ter autoconsciência por si só nom é suficiente. De nada serve a autocrítica se nom está orientada a encontrar soluções.

Também o coletivo LGBTIQ+ é assinalado como aliado para avançar a nível de ferramentas linguísticas, há algum projeto concreto para começar esta linha de trabalho?

A nossa vontade é trabalhar com as associações LGBTIQA+ do país, e mesmo doutros pontos da lusofonia, de maneira bidirecional. Por um lado, temos que recolher todo o trabalho que estám a fazer em matéria linguística e, polo outro, oferecer-lhes as ferramentas que necessitam. Falamos da elaboraçom de vocabulários, de assessoria linguística, de ajudar a galeguizar o movimento.

Neste ponto é preciso destacar a linguagem nom-binária, também chamada linguagem neutra ou linguagem inclusiva. Estamos a falar do morfema -e (todes) e do pronome neutro (maioritariamente, elu). É uma realidade inegável que existe um setor da sociedade galega que tem a necessidade linguística de usar essas formas, e o nosso dever como associaçom linguística e satisfazer essa necessidade. O nosso desejo é poder elaborar um guia, um manual, para que toda a gente galegofalante tenha uma referência à hora de usar esta linguagem. Um manual feito principalmente por pessoas nom-binárias e atendendo aos usos que já existem na Galiza e no resto da lusofonia.

E que acontece com toda a gente que nom deseja usar esta linguagem? Pois… nada. Podem continuar com a sua vida absolutamente igual que até agora, ninguém vai obrigar ninguém a nada.

Como imaginas a AGAL de dentro de 4 anos?

Pois… como dixem na própria assembleia, tenho um objetivo bem claro Com o Jon chegaremos A-Mil. Temos por volta de 520 pessoas associadas com as quotas no dia, e o meu desejo é darmos chegado às 1000 nestes 4 anos. É um objetivo se calhar ambicioso de mais, mas… podemos sonhar, ou?

Temos por volta de 520 pessoas associadas com as quotas no dia, e o meu desejo é darmos chegado às 1000 nestes 4 anos. É um objetivo se calhar ambicioso de mais, mas… podemos sonhar, ou?

Mas nom chega com sermos 1000 pessoas, temos que conseguir também acabar com a fenda de género e lograr que a AGAL seja um espaço seguro cheio de pessoas diversas. Que a nossa associaçom seja totalmente transversal, uma representaçom da sociedade galega. Só assim poderemos chegar realmente a fazer a diferença.

E, já como desejo pessoal, aspiro a ser o último presidente home cis-hétero da AGAL. Polo menos, o último em muitas décadas.

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