...até que só desejas que morra Flanders


O artigo ...até que só desejas que morra Flanders foi publicado originalmente no Nós Diario em 13 de outubro de 2021, na versom digital e na versom em papel. Posteriormente, foi republicado no PGL em 19 de outubro de 2021.

 
 
Falar galego é uma esmagadora derrota depois da outra até que só desejas que morra Flanders. A frase dos Simpsons nom era bem assim, mas é um resumo do que temos que aturar as persoas galegofalantes a diário.

Comecemos por um exemplo simples, a informática. Compras um computador, um portátil, um telemóvel ou um tablet em qualquer lugar da Galiza. Em que língua está configurado por omissom? Em castelhano, claro. Podes configurá-lo em galego, certamente, mas isso implica começar uma batalha. Tés que saber modificar as opções da língua em cada um dos sistemas operativos, que nom sempre é fácil nem intuitivo. Algumas vezes, mesmo é preciso mudar a língua em vários lugares para que o sistema nom volte ao castelhano à mínima oportunidade. Muita gente galegofalante acaba por ceder e deixá-lo em castelhano. No fim de contas, entende-se bem.

Mas vivemos na época dos algoritmos e das cookies. As desenvolvedoras dos sistemas, das apps, dos programas e dos sítios web que visitamos sabem a língua em que temos tudo configurado. Isso gera umas estatísticas que analisam com rigor para tomarem decisões de mercado. Se a maioria da gente na Galiza tem configuradas as cousas em castelhano, o que lhes chega é que a gente prefere usar o castelhano, e nom farám esforço nengum para oferecer os serviços em galego. Para quê? A gente nom o necessita.

Vamos agora com outro exemplo, o audiovisual. Mais uma batalha. Em dezembro estream o novo filme de Matrix, e queres vê-lo dobrado para o galego. Em todos e cada um dos cinemas da Galiza vai ser estreado em castelhano. Tés a opçom de baixar a Portugal para vê-lo em versom original legendada na nossa língua, é certo, mas tés que ter o tempo para isso. E a vontade de gastar dinheiro em gasolina ou em meios de transporte com maus horários e pior infraestrutura. Nada, toca ceder e vê-lo em castelhano.

Mas antes de ver o novo de Matrix, podes rever na casa a trilogia original. Tem uma dobragem galega mui boa. Mas… ai, amigue, começa ainda outra batalha. A dobragem galega nom está disponível em nenguma plataforma de streaming (Netflix, HBO, Disney+...). Podes esperar que a TVG decida reemitir de novo os filmes, seguramente num dia laboral a uma hora próxima da meia-noite. Ou podes conseguir uma máquina do tempo e viajar ao dia em que fôrom emitidos há anos, que se calhar é mais fácil. Ou podes recorrer a meigas e baixá-los de maneira alegal (lembremos que, tecnicamente, é pirataria). Mas claro, isso implica saber instalar um programa de torrents ou, se for por descarga direta, saber esquivar todos os anúncios e ligações falsas. E depois, como se fai para ver isso na TV? Será o formato compatível para metê-lo com um pendrive?
Somos muitas as persoas galegofalantes conscientes que non cedemos

Nom acontece nada, é uma mágoa perder uma dobragem magnífica, mas sempre está a opçom de vê-lo na versom original com as legendas em português. Só que Matrix é da Warner Bros., e só está disponível em HBO. E HBO España, por algum motivo, nom oferece legendas nem áudios em português, apenas castelhano e versom original. Poderias configurar um proxy ou um VPN para aceder ao HBO Portugal, que aí está disponível em português, mas… quanta gente sabe o que é um proxy ou um VPN? Pois acabas por ceder, mais uma vez, e vê-los em castelhano. No fim de contas, entende-se bem.

E assim tudo. Podemos falar também da batalha de comprar um livro em galego numa grande superfície. Da batalha de querer atendimento ao cliente em galego. Da batalha de pedir documentos em galego. De todas as batalhas que temos no dia a dia por querer usar a nossa língua, quando ceder e usar o castelhano é o mais simples, fácil e indolor.

É certo que somos muitas as persoas galegofalantes conscientes, as que nom cedemos, as que reclamamos os nossos direitos e batalhamos a diário. E isso é vital, imprescindível, sem dúvida. Mas por muitas batalhas que luitarmos, a guerra nom vai acabar até que nom consigamos que o galego seja também a língua das persoas inconscientes. A língua em que esteja tudo por omissom. A língua que a gente escolha sem ter que pensar. Mas, claro, isto é só o quê. Averiguar o como é o grande desafio que temos por diante.

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